segunda-feira, 25 de junho de 2012

Nas Ruas

Por Andrea Cople


Há um ano e um mês comecei a trabalhar como voluntária na Ronda Fraterna - que é a distribuição de quentinhas, roupas e cobertores aos nossos irmãos de rua.
Aprendi mais do que ensinei.
Fui mais ajudada do que ajudei.
Senti-me mais abençoada do que abençoei.
Porque nossos irmãos em tal situação também têm sonhos, têm ou já tiveram um lar e, por alguma circunstância, encontram-se na rua.
Posso afirmar que a maioria trabalha com venda de papelão, materiais para reciclagem, fazem biscates ou estão à procura de um emprego.
Encontrei homens que tinham sede não só de água, mas da nossa presença, das nossas palavras. Eles também anseiam pelo alimento espiritual.
Todos, ao receberem os gêneros que ofertamos, agradecem com os olhos cheios de luz, porque naquela noite, terão o alimento material ou o cobertor para o fio implacável de uma calçada.
 E lembro de quantos afortunados mal dizem um bom dia no elevador, ou cumprimentam entre os dentes.
  Muitos destes homens que na pressa dos nossos dias nem prestamos atenção, sabem conversar sobre diversos assuntos e de maneira educada. Em outros podemos notar as boas maneiras pelos gestos, pela fala articulada e pelas colocações apropriadas. Não falo do verniz social, mas da educação da alma!
Fiquei surpresa ao conhecer um senhor que nos pedia livros...para ler!
Porém, a história que mais me marcou foi a do Sr. Francisco.
Um homem de seus quarenta e poucos anos, não muito alto, fala mansa e educada.
O Sr. Francisco não comeu a quentinha imediatamente, queria falar que já trabalhou como técnico na área de petróleo, que já teve carteira assinada, fala inglês e espanhol.
Queria uma oportunidade para voltar ao mercado de trabalho, depois de esclarecer sua tragédia moral.
Entrei no carro para continuarmos a nossa jornada daquela noite, mas não tirava a história do Sr. Francisco do pensamento.
Todos eles gostam quando são chamados pelo nome, é uma forma de resgatarem a identidade, a individualidade, o ser único que são.
Não! Esses homens não são um monte de bêbados que vivem a esmolar! São seres humanos que passam por provações incalculáveis para nós que temos um lar.
São pessoas que merecem nosso respeito, nossa mobilização, se não para resolver, pelo menos para aliviar a pesada carga que carregam por estarem nas ruas.
Não é apenas um dever do Estado!
É também um dever nosso de fazer um pouco por essas pessoas que sufocam seus sonhos, escondem suas lágrimas, disfarçam o medo de estarem sob o teto... O teto que é apenas o céu. Céu estrelado, céu chuvoso, céu escuro das noites.
Como dormir tranqüilos se sabemos que podemos fazer um pouco mais?
Apenas um pouco de tempo, poucas palavras, apertos de mãos, um olhar de compreensão.

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